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Prefeitura Municipal de Guaíba
 
Nobre e Guaíba

“OBA GUAÍBA” 

                 NOBRE: HUMOR E LIRISMO NO AMOR À TERRA NATAL - JORNAL O GUAÍBA - 20/01/1965

        A maior emoção que eu tive na vida foi nascer, embora não me recorde. Aconteci na rua São José, Guaíba, numa amena tarde de abril. Como percebem, já fui diferente: a maioria das crianças nascem à noite. Poucos anos depois, diziam os parentes que tinha sido que a cegonha que me trouxera pelo bico. Depois, entretanto, soube que fui assistido pelo bom dr. Gastão Leão que me deu a primeira palmada e com isso abri o tarro para a vida. Nunca mais calei a boca.

        Minha família é gente decente: por parte de pai, Villalobos, por parte de mãe, Miranda. Meu avô materno era quem fazia o vapor Guaporé se mexer. O velho tinha cara de brabo, mais era o maior avô do mundo. Minha avó, a Manã, era dona de hotel e dela guardo infinitas ternuras. Tiveram 18 filhos, quase todos nascidos em Guaíba. Gente de boa cepa. Perguntam pelos Mirandas aí e verão. Até aos 5 anos meu mundo foi Guaíba. Depois trouxeram-me para a cidade grande do outro lado do rio. Meu pai, porém, ficara para sempre na cidadezinha, sepultado na terra que amou.

        Depois a gente cresce mais um pouquinho, já está na escola aprendendo uma porção de coisas que a gente não sabia, mas que acaba compreendendo. Na escola e na vida tornaram-me um homem direito e respeitável - um humorista, por que um humorista? Sei lá. Eu via o mundo ao meu modo, de cabeça para baixo, cheio de coisas que me pareciam engraçado, embora as mais sérias. Compreendi que no fundo de todo o drama há coisas engraçadíssimas.

        Sempre, desde que a família se transferiu para Porto Alegre, a “terra’’ estava enraizada em mim. Eu era um guaibense por direito e por poesia. Nunca esqueci isso. Em Porto Alegre tive sucesso na vida. Compreendi que era preciso rir, que o riso era uma filosofia, por que não dizer, uma tomada de posição. Entrei no negócio do riso no rádio. Um dia o estalo: por que não proclamar Guaíba na forma do riso? Nasceu  “ Terra é Guaíba ”, pegou. Era a ternura do homem para com sua terra, era a minha maneira de dizer o quanto amo meu torrão, embora fazendo rir.

        Guaíba cresceu aos olhos de todos, Guaíba começou a trazer alegria. Guaíba ficou sendo a cidade ideal para todos. A partir da brincadeira, todos queriam ter nascido em Guaíba, porque ela virou uma terra feliz, de alegrias de risos. Era Nova Iorque do humor.

        Guaíba virou xangrilá que no conceito de todos é a grande “terra prometida ’’ porque é feliz. “Só a ponte ’’!   “Só a ponte ’’!

        Foi o que pude fazer...e os guaibenses compreenderam. Compreendeu o excelente Arlindo Stringhini, o grande prefeito, o maravilhoso amigo. Compreendeu o povo bom que uma terra é também imensa pela graça e pelo humor que se tira, porque em tudo que fiz havia ,no fundo um orgulho imenso de ter nascido aí, numa tarde de abril, no tempo em que as flores amavam as flores nos leitos dos ventos. Desde o primeiro pipi que fiz na batina do Cônego scherer até minha última piada (que delas vivo ), continuo sendo o menino que torcia pelo Itapuí e que andava a galope nos petiços barrigudos, pelas ruas da minha terra. Um dia irei definitivamente para lá, sob a terra generosa que me viu nascer, pedindo apenas aos guaibenses ( e este é um compromisso que desejo assumam comigo ) o epitáfio...

        Bem, bem, convém deixar por ora porque afinal sou guaibense e guaibense nunca foi tatu...



 
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